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Archive for the ‘Artigos’ Category

Por Sebastião Erculino Custódio

A luta camponesa se dá no enfrentamento ao sistema que prioriza o agronegócio e ela se manifesta por diversas faces: cultural, econômica, na luta pelo espaço, a luta contra os venenos e entre outros a luta pela educação própria e apropriada. Nem sempre temos vitórias, mas também não são poucos os avanços que conseguimos, exemplo disto é a democratização do crédito, as moradias camponesas, o mercado popular de alimentos, as feiras livres, só para citar alguns. (mais…)

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O projeto da Micro Usina do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), já está em andamento. As obras, que iniciaram há 30 dias, estão sendo feitas na comunidade de São José, município de Águia Branca (ES). O projeto começou a ser discutido no estado a partir de 2009, junto a miltância do movimento, por meio de formação e debate.

Depois de finalizada, a micro usina terá uma demanda de 1500 toneladas de cana por ano, com capacidade produtiva de 63.000 litros de cachaça, 27.000 litros de álcool combustível, 16.200 kg de melado, 18.000 kg de açúcar mascavo e 9.600 kg de rapadura, além da possibilidade de beneficiamento da mandioca, batata-doce e sorgo, gerando uma série de subprodutos como ração animal e adubos para a lavoura. (mais…)

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Este ano foi realizado mais um estágio interdisciplinar de vivência (EIV) entre os estudantes da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).  A 6ª edição do estágio aconteceu entre os dias 04 e 26 de janeiro de 2012.

O EIV é uma atividade pedagógica que consiste na formação acadêmica e troca de saberes entre estudantes universitários e famílias camponesas. Os estagiários passam por uma formação inicial onde são trabalhados alguns temas voltados para questões sociais e agrárias; depois são encaminhados para as bases dos espaços de vivencias de movimentos sociais do campo, onde ficam alojados nas casas das famílias; e concluem com um momento de retomada para socialização e avaliação do processo. (mais…)

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Mercado Popular de Alimentos: caminhos alternativos para quem planta e para quem come

O “mercado popular de alimentos”, conquista do Movimento dos Pequenos Agricultores, completou neste último dia 09/01, três meses de funcionamento.

Inaugurado no centro de São Gabriel da Palha (ES), o mercado vem oferecendo, nesses três meses de existência, mais de 350 tipos de produtos diversificados provenientes de 100 famílias camponesas de cinco municípios da região que fazem parte das bases do MPA.  (mais…)

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Cerca de 200 camponesas e camponeses de todo o Espírito Santo participaram, entre os dias 13 e 16 de dezembro, do V Encontro Estadual do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). O evento foi realizado na paróquia luterana do distrito de Palmeira, Itaguaçu (ES).

Um dos objetivos do encontro foi aprofundar e consolidar o Plano Camponês, uma nova proposta de produção para o campo brasileiro, a partir de um conjunto de ações políticas, econômicas e culturais para garantir a qualidade de vida do campo e da cidade.

“O plano é uma ferramenta estratégica para a construção de um projeto popular para o Brasil a partir de outra lógica de produção de alimentos no campo. É com base na soberania alimentar e agroecologia, que produziremos alimentos saudáveis para o povo brasileiro e respeitaremos o nosso meio ambiente”, afirmou Valmir Noventa, integrante do MPA.

A atividade ainda serviu de espaço de organização, estudo e formação dos camponeses, além de planejamento das ações do movimento para o próximo ano.  “A realização de mais um encontro estadual demonstra a força do campesinato, nossa capacidade de luta e organização enquanto movimento. Além de representar mais um avanço no caminho contra o agronegócio e na conquista do poder popular”, afirmou Deuzira Conte, militante do movimento.

Aloisio Souza da Silva, mais conhecido como Lula, integrante do MPA e da Via Campesina contribuiu com os momentos de formação do encontro, convocando todos os participantes da plenária a refletir sobre análise de conjuntura global e local, a partir de uma abordagem histórica e crítica do modo de produção capitalista.

A participação expressiva da juventude e das mulheres camponesas marcou o encontro. O protagonismo e criatividade de ambos contribuiu de maneira decisiva para a organização do evento, tanto no preparo e realização de místicas, quanto nas atividades culturais e de comunicação, e na liderança de grupos de discussões.

As crianças camponesas também tiveram presença marcante no encontro e puderam se divertir e aprender alguns princípios do MPA por meio do cinema, desenhos e brincadeiras educativas, durante a ciranda camponesa.

O encontro ainda contou com a participação de diversos movimentos e organizações sociais, tais como: representações de sindicatos, associações rurais, escolas famílias agrícolas, movimentos da Via Campesina, parlamentares e poder público.

MPA comemora 15 anos de lutas e afirmação camponesa

O 3º dia do encontro (15/12) foi afirmado como um momento histórico para toda a militância camponesa que há anos vem construindo o movimento. Nesse dia foram comemorados em tom de festa os 15 anos do MPA, os anos de lutas, resistências, ocupações e conquistas camponesas.

No dia anterior, foram rememorados os 15 anos de história do movimento, com destaque para as conquistas materiais, como as moradias camponesas, feiras livres, mercado popular, produção das sementes crioulas, agroecologia, linhas de créditos, entre outros, contribuindo para uma melhoria da qualidade de vida de camponesas e camponeses; e simbólicas, como a intensificação e valorização das relações entre o campo e a cidade, o  resgate da identidade camponesa e a construção do Plano Camponês.

Integração camponesa

O evento também contou com a participação de camponeses do 5º Distrito de São João da Barra (RJ), que ao final do dia, exibiram o vídeo Narradares de Açu e fizeram uma exposição sobre a situação de desapropriação de terras de pequenos agricultores da região, em decorrência da instalação do Complexo Portuário e Industrial de Açu promovido pela empresa LLX, do empresário Eike Batista.

No início do mês (10-12), representantes do MPA estiveram presentes na região e puderam ver de perto a realidade vivenciada pelos agricultores. O movimento se solidarizou com a situação e se colocou a disposição para contribuir com a luta dos camponeses cariocas. “Essa luta não é só de vocês. Ela também é nossa”, defendeu Cristina Matielo, integrante do MPA.

Assista aqui o vídeo Narradores de Açu

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Por Roberta Traspadine*

Para o Brasil de Fato

14/6/2011

A história da dominação no Brasil encontra no capitalismo uma forma sem precedentes de apropriação da riqueza por poucos sujeitos Roberta Traspadini Uma das características marcantes do modo de produção capitalista é a necessidade de criar mecanismos de conformação e manutenção de poder. Entre eles, está a divisão social e internacional do trabalho e a lógica de funcionamento que provoca mutações para que os órgãos vitais apareçam e se desenvolvam como não vitais. A separação dos sujeitos da realização de suas vidas, a precarização das condições de trabalho e de pertença aos territórios, acentuou os vínculos de dependência e subordinação dos que vivem da venda de seu trabalho. Segundo o IBGE, mais de 190 milhões de brasileiros se dividem entre moradores do campo e da cidade. Enquanto o campo é composto por quase 30 milhões (13,5%) na cidade habitam (84,5%), mais de 160 milhões. Mas esta lógica de separação formal entre o campo e a cidade não é tão real assim.

1. Migrações forçadas pelo mundo do trabalho

A história das migrações no interior da nação e para o exterior tem relação direta com a história da concentração de terra e da superexploração dos trabalhadores do campo. Isto evidencia a tragédia acentuada da questão da educação, saúde, transporte, habitação, tanto no campo quanto nas cidades, e relata a forma como o Estado brasileiro destina seus recursos e trata uma parte da cidade como prioridade. Estes elementos combinados revelam uma estratégia de poder sobre a produção em que o monocultivo e o latifúndio assumem a condução do processo, via coerção popular e/ ou consenso parlamentar. Isto é similar à dominação dos grandes projetos nas cidades.

O grande capital atua também na agricultura brasileira, e se enriquece às custas da necessária mobilidade do trabalho e da valorização especulativa de suas terras.

Dos 5.2 milhões de estabelecimentos no campo, o latifúndio, com mais de 1 mil hectares, fica com 43% do território produtivo do País e soma apenas 1% do total de proprietários, já a pequena propriedade corresponde a 85% dos estabelecimentos e produz em uma área de 24% do total. Este Brasil do grande capital expressa a falácia de uma história de poder que relega o popular aos limites da existência humana e que impossibilita a pertença no campo e nas periferias da cidade para parte expressiva de sua população.

Segundo o valor econômico, as 5 principais commodities do Brasil – minério de ferro, petróleo bruto, complexo da soja, açúcar e complexo de carnes – foram responsáveis por 43% das exportações do País. Já os pequenos produtores cumprem com a humana tarefa de produzir alimentos – 87% da mandioca, 70% do feijão e 34% do arroz – em condições severas ditadas pelo grande capital em sua aliança com o Estado. Os grandes debates sobre as políticas públicas devem ser feitos com base na contradição capital-trabalho, em especial as conseqüências das privatizações da terra, da água e das sementes. Essa lógica dominante tem feito com que parte expressiva dos produtores de alimentos se veja enroscada nessa cadeia desumana de trabalhar para sobreviver, sem tempo para pensar e atuar de forma distinta da aprisionada.

 

2. O campesinato: a classe e seu projeto

Dentro da ordem, o campesinato, enquanto classe, assume seu projeto de vida e luta por direitos constitucionais que permitam à classe trabalhadora consolidar uma vida com dignidade para o campo e para a cidade. Fora da ordem, o campesinato trabalha para consolidar um projeto de sociedade com base em um plano em que o camponês seja o centro de irradiação do desenvolvimento, cuja relação com a terra não é a da troca utilitária mercantil, mas de convivência recíproca e respeitosa.

Um dos grandes desafios do campesinato tem a ver com a reafirmação, no território, do enraizamento dos jovens no campo.

Para isto, são necessárias políticas públicas que garantam possibilidades de realização de uma vida digna e plena de direitos no campo. Educação, saúde, transporte, moradia, crédito e venda dos seus produtos numa outra lógica de estímulo à produção e circulação das mercadorias, tendo o humano como centro.

O campo e a cidade juntos conformam a classe trabalhadora brasileira. Parte expressiva desta classe tem sido relegada à uma política pública periférica, frente à centralidade dos gastos do Estado com o grande capital.

A história da dominação no Brasil encontra no capitalismo uma forma sem precedentes de apropriação da riqueza por poucos sujeitos. E de produção de riqueza pela maioria da população que não consegue sobreviver do fruto de seu trabalho.

A ruptura só ocorrerá através da organização popular unificada entre campo-cidade, cuja irradiação de poder institua uma aliança dos que vivem do trabalho e lutam por se realizar em dita produção.

É necessário que o organismo vivo se levante e assuma com consciência seu papel vital no jogo das contradições. E reforce, na sua vitalidade redescoberta, a necessidade de construção de uma história de poder popular que faça tremer as matérias políticas e econômicas inorgânicas.

A via campesina é um organismo vivo em movimento. Aliada às lutas da cidade, agita um vulcão a entrar em erupção. Esse vulcão é a classe que vive do trabalho e que precisa romper com as amarras (in)formais que a escravizam na lógica fragmentada da dominação.

*Roberta Traspadini é economista, educadora popular, integrante da Consulta Popular/ES.

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Já está estabelecido que a grande mídia não se pauta necessariamente por fatos que sejam efetivamente relevantes para os grandes problemas que ocorrem na sociedade humana. Aliás, como qualquer empresário operando num sistema que visa o lucro, os donos de veículos de imprensa acabam ressaltando ou suprimindo agendas de acordo com seus interesses de classe social. E apesar de eticamente questionável, visto que a ação da imprensa deveria ser voltada para apresentar fatos e não versões de uma dada realidade, isto chega a ser tolerável quando o assunto não é algo de importância estratégica para o bem estar de todos os cidadãos que compõem a sociedade em que estão inseridos. Caso contrário, a omissão de elementos que permitam uma avaliação compreensiva de problemas que nos afetam coletivamente transpõe o campo do que pode ser tolerado.

Um exemplo gritante dos prejuízos da parcialidade da cobertura jornalística está acontecendo neste momento no Brasil. E no centro deste problema está a questão do consumo de agrotóxicos e seus efeitos sobre a saúde de agricultores e dos consumidores finais da produção que é por eles gerada. Esta situação é explicitada pelo fato nada lisonjeiro de que desde 2009 o Brasil se tornou o campeão mundial no consumo de agrotóxicos, e sozinho consome 16% de toda a produção mundial deste tipo de substância química. As conseqüências deste alto padrão de aplicação estão sendo documentadas por estudos científicos que mostram impactos agudos e crônicos sobre agricultores, e que aparecem na forma de uma série de doenças e patologias que incluem diferentes tipos de carcinomas, doenças do sistema nervoso e dermatoses. A coisa fica ainda mais aflitiva se considerarmos que entre as descobertas mais recentes se encontram a descoberta de resíduos de agrotóxicos em leite materno e a ocorrência de alterações cromossômicas que estão alterando as taxas de nascimentos de meninos e meninas. Aliás, em se tratando de detecção de resíduos, aqui mesmo em Campos estudos realizados por pesquisadores da Uenf encontraram vestígios de pelo menos um agrotóxico, de uso abundante na monocultura de cana, na água que chega às nossas torneiras.

No entanto, algo mais abrangente em termos do público atingido vem sendo detectado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) na análise dos alimentos que chegam à nossa mesa. Dados divulgados pela ANVISA em 2009 mostraram que em mais de 64% das amostras de pimentão analisadas foi detectada a presença de agrotóxicos. Mas o problema não fica restrito a uma cultura, visto que nos casos do morango, da uva e da cenoura o montante de amostras contaminadas alcançou 30%. Se considerarmos que o uso intenso de agrotóxicos é hoje elemento intrínseco da produção agrícola nacional, não fica difícil entender por que muitos itens que compõem a nossa dieta cotidiana estão contaminados. Ainda que a taxa de acumulação derivada de frutas e hortifrutigranjeiros contaminados por agrotóxicos possa variar em função dos hábitos alimentares de cada individuo, as chances de que todos estejam caminhando para nos tornar cronicamente contaminados estão ficando cada vez maiores.

Mas onde é que entra a grande imprensa neste imbróglio? Um primeiro aspecto é que esta problemática está sendo mantida fora das pautas principais, e quando aparece é fruto de algum tipo de acidente grave como foi o do derrame de milhões de litros de Endosulfan na calha fluvial do Rio Paraíba do Sul. Além disso, não há um tratamento jornalístico sério que busque ligar a questão do consumo de agrotóxicos e de suas implicações sobre a saúde de toda a população brasileira. Mas algo que eu considero ainda mais vexatório é o fato de que quando chamada a contribuir no esforço que a sociedade civil está realizando neste momento para informar a população brasileira sobre o perigo que estamos correndo, a grande imprensa se omite no papel primordial que deveria cumprir que é o de informar.

É por esta postura da grande mídia que a imensa maioria dos brasileiros continua desinformada acerca da existência da “Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida”que foi lançada em Brasília em 07 de Abril de 2011 por mais de 20 entidades da sociedade civil brasileira, movimentos sociais, entidades ambientalistas e grupos de pesquisa cientifica. Esta campanha, pela importância que tem para todos nós, precisa ser conhecida e divulgada por todos os que possuem um interesse efetivo em garantir o direito de uma alimentação saudável. Para tanto, precisamos parar de aceitar passivamente a manutenção de um modelo de produção agrícola que beneficie principalmente as corporações multinacionais produtoras de agrotóxicos e o latifúndio agroexportador. E aqui é preciso ficar claro que uma tomada de posição contra o envenenamento coletivo por agrotóxicos é a coisa mais lógica a ser feita, visto que os custos sociais e ambientais não respeitam fronteiras de classe social. Aliás, dado que o nível de consumo é ditado pela renda, é bem possível que os setores mais abastados da população brasileira é que estejam neste momento sendo os mais contaminados. Pense bem nisto ao olhar para o seu próximo prato de salada.

*Artigo do Prefessor Marcos Pedlowski, da Universidade Estadual Norte Fluminense (UENF), para a revista SOMOS ASSIM.

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De 2004 a 2010 a classe trabalhadora viveu a reconfiguração do mundo do trabalho em que a indústria perdeu peso e o agronegócio ganhou força

 

Roberta Traspadini – Brasil de Fato, 11 de abril de 2011

 

1.  O Brasil primário exportador do século XXI:
O economista Reinaldo Gonçalves tem sustentado a volta ao passado da política econômica do Governo Lula, quando o Brasil era primário exportador.
Especialização retrógada é o conceito utilizado por ele para mostrar dito retorno à produção primária voltada para fora, centrada especialmente na exportação de bens com baixa tecnologia incorporada.
Para explicar este processo, o professor criou o conceito de vulnerabilidade externa, entendida como a capacidade do país enfrentar com mais êxito, ou não, as pressões internacionais.
Para ele, o período Lula foi marcado por um cenário internacional favorável que permitiu um controle conjuntural da vulnerabilidade, mas estruturalmente não mexeu nas condições internas que permitiriam outra condução no processo de desenvolvimento.
A revista Valor Econômico mostra que de 2004 a 2010, o Brasil viu seu processo industrial, de incorporação tecnológica perder força, enquanto as commodities ganharam.
Neste período, as 5 principais commodities concentraram 43.36% das exportações, enquanto os automóveis tiveram uma queda de 3,5% para 2,2%, a venda de aviões caiu de 3,4% para 2%.
Outro destaque é a composição tecnológica destas commodities. Dos 17 bilhões de dólares exportados de soja, 64,5% foram em grãos e dos 12 bilhões de dólares do açúcar, apenas 29% se refere ao refino.
Quais as implicações desta volta à economia primário-exportadora com baixa incorporação tecnológica?
2.Vulnerabilidade externa, dependência e subordinação
Temos algumas diferenças centrais com os períodos anteriores, dado o prévio impacto no cenário nacional do processo neoliberal vivido no período FHC.
1º: O período neoliberal conformou uma situação no Brasil de privatizações, abertura econômica e mudanças legislativas que fortaleceram, no cenário nacional, a participação do capital internacional.
2º: As terceirizações, com as quebras de contratos e a implementação dos trabalhos temporários – em especial estágios e designações temporárias da educação -, modificaram o padrão de emprego e renda no Brasil e formalizaram a precarização do trabalho como critério fundamental da extração de valor em território nacional.
3º.: A soberania nacional – alimentar, territorial, democrática e popular – foi substituída pela aberta campanha publicitária sobre o Brasil agora na condição de credor do FMI. 4º.: O mercado interno passou a ser o celeiro das novidades internacionais eletro- eletrônicas – cujas sedes principais das marcas industriais estão no G-7 – desde os telefones celulares ate os aparelhos de televisão. Agrega-se a isto o tema da suposta comodidade dos lares, o que nos dá um intenso culto ao consumo, diretamente atrelado ao endividamento das famílias e dos indivíduos.
Estes quatro elementos juntos mostram a acentuação dos vínculos de dependência do País no período Lula às economias centrais, e relatam uma faceta nova da reprimarização da economia brasileira.
A dependência, entendida como vulnerabilidade externa estrutural traz, para a classe trabalhadora brasileira, novos dilemas dos velhos paradigmas da disputa do poder.
Estes dilemas reforçam a lógica de banir do imaginário coletivo brasileiro três questões chaves: a soberania nacional; a democracia participativa, casada com o projeto popular; e, a situação da classe que vive do trabalho, a partir deste processo de reprimarização.
3. Dependência e superexploração:
De 2004 a 2010 a classe trabalhadora viveu a reconfiguração do mundo do trabalho em que a indústria perdeu peso e o agronegócio, de baixa incorporação tecnológica e laboral, ganhou força.
Além disto, a juventude deste período – criança que se desenvolveu nos moldes neoliberais dos anos 90´s – viu a possibilidade de se empregar pela primeira vez como estagiária, cuja aparência de ganho real acima do salário mínimo brasileiro, foi conformando uma nova ideologia do trabalho, avessa ao debate da intensa exploração vivida.
A sociedade do consumo tecnológico e dos ganhos da especulação financeira, associada ao endividamento pessoal sem precedentes na história do mercado interno brasileiro, abriu as portas ao fortalecimento renovado da cultura americana do consumo, do desperdício, da ampliação do desejo mercadológico de criação de necessidades e escolhas externas à realidade concreta destes sujeitos.
Vivemos a volta da reprimirização em plena era de confirmação dos resultados da política neoliberal no continente e no País, cujos efeitos são muito mais perversos do que os da década de 30 e 40.
As cruéis implicações desta política neoliberal combinada com a reprimarização, dizem respeito à intenção formal do poder institucional, de impor, na aparência dos números da economia, de enterrar de vez do imaginário coletivo brasileiro, os elementos que garantiriam a força da Nação e a capacidade decisória da sociedade (primazia do público sobre o privado; retomada da soberania nacional; democracia participativa, para além da suposta democracia do consumo, via endividamento individual).
Uma vez mais, a dominação burguesa sobre a economia e a ideologia, oculta tanto a realidade dos fatos, quanto os conflitos vividos pela classe trabalhadora, nos ambientes onde esta interage: trabalho, caso, convívio social.
Desemprego estrutural, professores e funcionários públicos em greve, estudantes em levante, são alguns exemplos de que a aparência encobre a verdadeira situação de conflitos vividos no País, no continente e no mundo.
Até quando? Até sermos capazes, enquanto classe, de dar unidade aos levantes, de retomar o debate popular sobre os grandes processos que vivemos – como a campanha contra os agrotóxicos – e de reconstruir o projeto popular para o Brasil.
Roberta Traspadini é Economista, Educadora Popular, integrante da consulta popular do ES.

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Publicado no portal Valor online (Jornal Valor Econômico), em 24 de março de 2011

Por José Graziano da Silva*

Não constitui exclusividade brasileira a triste evidência de que a exclusão tem rosto e gênero e pode ser personificada na figura de uma mulher pobre, de baixa escolaridade, trabalhadora rural. O que nem sempre é lembrado é que a redenção desse símbolo da desigualdade pode significar, também, a redenção de um pedaço expressivo da fome, tornando a superação das discriminações de gênero no acesso à terra, ao crédito e a insumos uma das prioridades da luta pela segurança alimentar em nosso tempo.

O alcance dessa agenda não pode ser subestimado.

Nos países pobres e em desenvolvimento, 43% da força de trabalho agrícola é formada por mulheres. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) acaba de demonstrar na edição 2010-2011 de sua publicação “O Estado Mundial da Agricultura e da Alimentação” que as restrições de gênero provocam uma produtividade de 20% a 30% menor nas lavouras sob controle feminino, em comparação com áreas equivalentes sob comando masculino.

A igualdade de acesso à terra, insumos e crédito poderia elevar a oferta de alimentos em até 4%, tirando de uma condição de subnutrição de 100 milhões a 150 milhões de pessoas num universo de quase um bilhão de famintos. Fechar o abismo de gênero traria desdobramentos ainda mais expressivos em economias asiáticas e africanas, onde se entrecruzam as manchas de fome mais densas do planeta e, não por acaso, as demografias femininas mais significativas da agricultura.

Enquanto na América Latina e Caribe a participação feminina na mão de obra agrícola é da ordem de 20%, na Costa do Marfim já atinge 36%; bate em 60% no Lesoto, Moçambique e Serra Leoa, sendo superlativa em praticamente toda a África subsaariana. Em muitos casos, tal hegemonia espelha o saldo de conflitos e doenças, como o HIV, ademais do êxodo maciço da força de trabalho masculina.

Razões migratórias distintas, decorrentes sobretudo da aceleração do ciclo industrial, têm peso significativo na China, onde a mulher representa 48% da mão de obra rural com viés ascendente. No Vietnã, quase 50% da produção de arroz, uma das mais importantes do mundo, tem por trás mãos femininas.

A igualdade de acesso à terra, insumos e crédito poderia elevar a oferta de alimentos em até 4%, tirando de uma condição de subnutrição de 100 a 150 milhões de pessoas num universo de quase um bilhão de famintos, especialmente na Ásia e África.

Independente da latitude, as produtoras rurais têm menor acesso à terra, a sementes, fertilizantes, ferramentas, tecnologia, extensão e crédito. O desequilíbrio se reproduz no controle das criações que representam 40% da renda no campo. Em todo o mundo, aproximadamente 400 milhões de mulheres agregam o cuidado dos rebanhos aos afazeres domésticos, que incluem a responsabilidade pelos filhos e a alimentação, bem como a de assegurar o suprimento de lenha para o fogo e água limpa para consumo.

A discriminação de gênero gera paradoxos desconcertantes. À medida que a demanda por proteína animal cresce no planeta e os pequenos rebanhos dão lugar a criações intensivas as titulares tradicionais são preteridas. Se tivessem acesso a linhas de crédito específicas para expandir seu próprio criatório – bovino, suíno ou a piscicultura – esse deslocamento seria significativamente menor.

A transição alimentar, ao mesmo tempo, abre uma janela de oportunidade à construção um novo estatuto de gênero no campo. Um leque cada vez mais variado de verduras e frutas frescas, mas também de carnes especiais, peixes, temperos e vegetais semipreparados atende à sofisticação do consumo urbano atualmente, indo ao encontro das aptidões femininas para reafirmar a urgência da democratização de direitos e oportunidades.

Entre as barreiras a serem superadas, uma das mais importantes é a extensão rural. Estudos anteriores da FAO (1988/89) em 97 países demonstraram então que apenas 5% da assistência técnica era dirigida às mulheres, que por sua vez representavam apenas 15% dos extensionistas.

Embora desvalorizadas, elas desempenham papel cada vez mais relevante nas decisões comerciais, sendo o personagem oculto por trás das análises de contratos e compromissos de compra e venda assinados pelos seus companheiros. No Brasil, desde a criação do Fome Zero em 2003 os programas de transferência de renda associaram o seu sucesso a essa aptidão administrativa, dando o cartão de benefícios à mulher da família.

Hoje, 93% dos repasses do Bolsa Família tem a mulher como titular. Idêntica percepção incentivou a criação do Pronaf-Mulher na área do crédito agrícola e canalizou às agricultoras volumes crescentes (24% atualmente) dos recursos destinados à aquisição de safra da produção familiar. A titulação conjunta da terra, obrigatória na política agrária brasileira, é outra conquista exemplar, a contrapelo da discriminação. Precede a essas decisões uma providência ao mesmo tempo simples e crucial: promover a documentação da agricultora, inclusive seu credenciamento comercial, para que possa, de fato, assumir as rédeas do seu negócio.

Num mundo de especulação financeira e eventos climáticos extremos, muitas vezes impermeáveis à ação local, superar a desigualdade de gênero nas políticas agrícolas não pode ser visto como um fardo. A força da mulher na luta contra a fome constitui um trunfo adormecido cujo despertar não pode mais ser adiado.

*José Graziano da Silva está licenciado do cargo de Representante Regional da FAO para América Latina e Caribe

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Supõe-se que, quanto mais cedo estas crianças forem educadas no projeto da classe dominante menor resistência estas terão

Brasil de Fato –  08/02/2010

Roberta Traspadini

Nos últimos 10 anos cresceu a preocupação dos técnicos dos governos, dos políticos e do capital sobre a necessidade de se projetar cenários para o futuro.
Esta projeção nos mostra como, no exercício de poder, a classe dominante materializa e projeta para dentro da classe trabalhadora sua idéia de manutenção da ordem.
Mas por que as crianças da classe trabalhadora? Destacaremos 4 pontos introdutórios para o debate.
1. O futuro exército produtivo
Segundo a CEPAL, a América Latina possui aproximadamente 600 milhões de habitantes. Destes, 27,3% têm até 14 anos de idade e 33,6% têm de 15 a 34 anos.
Tomemos como referência apenas o primeiro grupo. Se analisarmos as projeções para os próximos 25 anos, este grupo terá entre 25 a 39 anos de idade.
Em 25 anos estas crianças já terão passado por um processo de formação ideológica, cultural e política que moldará em muitos sentidos sua forma de ver e atuar sobre o mundo.
Supõe-se que, quanto mais cedo estas crianças forem educadas no projeto da classe dominante menor resistência estas terão, para assumir sua posição periférica na tomada de decisões em seus territórios.
É com base nesta relação formal de educar/adestrar para a venda da força de trabalho, que o capital determina o que é importante que as crianças internalizem: as imagens, as brincadeiras, os princípios e valores do consumismo-individualismo e, a concepção de que se destaque o “melhor” em cada ambiente de convívio social.
Assim se reitera a idéia sobre a melhor escola, o melhor bairro para se viver, a melhor empresa para trabalhar, o melhor sujeito em contraposição aos piores. Piores estes que deverão ser aniquilados do convívio social, em vários processos de prisão e privação.
2. A formação da consciência
Na formação da consciência burguesa desta futura juventude, não pode haver espaço para questionamentos sobre a ordem.
O capital só materializa sua formação da consciência, caso domine e adestre.  O modo de produção dominante consolidou as bases materiais concretas para desenvolver aparatos técnico-científicos tais que o permita tirar vantagens de sua posição de classe hegemônica.
A tecnologia e a ciência falarão por si mesmas e ambas não deverão ser questionadas na sua liderança, dada a crescente possibilidade de consumo entregue a todos e todas.
Também existe a intenção de aniquilar com o sentido do público enquanto se reitera a força do privado, logo, além da conquista do capital sobre o trabalho, deve-se apreender o poder de uns poucos sujeitos sobre muitos.
Se ainda é possível visualizarmos a importância dos direitos sociais da nossa constituição na atualidade, a intenção do capital é de trabalhar agora para que no futuro estas bandeiras caiam por terra na pedagogia do exemplo.  Assim, o sentido do melhor volta com toda força retratado na lógica privada.
3. Um exemplo concreto de projeção do capital.
No estado do Espírito Santo existe um projeto do capital que atua neste território denominado ES: 2025. Dita projeção com linhas de ação concretas para os 25 anos elegeu o governador anterior Paulo Hartung como o mais bem votado do País.
A Vale é uma das empresas que atua no Espírito Santo em ação, ONG criada para projetar-executar as linhas de reconstrução do território capixaba.
A empresa faz uma parceria com algumas escolas públicas e leva as crianças dos centros municipais de educação infantil para conhecerem suas instalações. Disponibiliza o ônibus, os instrutores, explica pedagogicamente o processo a ser apreendido, distribui jogos “educativos” de presente, dá lanche e retorna as crianças para a escola e suas famílias com a certeza de que reproduziu, a partir daquele momento, o diferente e belo na vida daqueles futuros trabalhadores.
Esta ação concreta mexe diretamente com a formação da consciência tanto das crianças, quanto de parte dos educadores, incluindo seus familiares. Por quê? Para que as crianças sejam as que:
a) Verão naquela empresa a possibilidade de se empregarem no futuro;
b) Desejarão desde já fazer o melhor para serem selecionadas, ou seja, fazerem por onde estar ali;
c) Visualizarão um conceito de sustentabilidade dado pela empresa que disfarça o real vivido. No jogo de montar não se vê minério e sim meio ambiente ecologicamente bem sustentado;
d) Poderão comparar o que têm e projetar o que desejam para o futuro, a partir do que ali viveram. Isto as remeterá inclusive para uma reflexão individual sobre a situação dos pais, dos amigos, do bairro, com o fim de, ou negarem o que têm, ou reforçarem o que querem para saírem do espaço dos que nada têm.
A Vale projeta, junto com seus pares, um futuro de submissão para estas crianças da classe, cuja aparente certeza de inclusão se constrói sob as bases dos princípios e valores ditados pelo grande capital.
4. O que está em jogo afinal?
Está em jogo a manutenção da acumulação de capital centrada na exploração do trabalho, fruto de uma perversa dominação de classe.
Está em jogo o atual consumo da criança associado à inserção futura como trabalhador endividado consciente. Enquanto hoje são os pais os que arcam de forma endividada com o consumo das crianças, amanhã estes trabalhadores já terão internalizado que toda inclusão passa pelo tipo de consumo que são capazes de desejar e realizar.
Está em jogo a formação da consciência de que não existe outro projeto senão o da classe dominante. Talvez esta seja a mensagem mais clara de todas: a de que só resta para o trabalho, trabalhar para consumir e que a acumulação fica como propriedade privada, indiscutível, de quem emprega.
Está em jogo eliminar a disputa, as contradições, e colocar no lugar da divergência e do antagonismo um processo de dominação de classe como um projeto único de sociedade.
Isto não é novo na dinâmica de manutenção da hegemonia capitalista. Quiçá as bases técnico-científicas com as quais o capital ora conta, coloquem outros elementos que dificultam ainda mais a clareza dos projetos e processos em disputa.

Roberta Traspadini é economista, educadora popular e integrante da Consulta Popular/ES

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